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Porquê a aquisição do Centauro II e não uma variante do Guaraní para substituir o Cascavel?

Muitos entusiastas e leigos em tecnologia militar, tem repetidamente perguntado em grupos de discussão e redes sociais, o porque do Exército Brasileiro ter optado por uma nova viatura blindada 8×8 no programa Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav), visando substituir os vetustos EE-9  “Cascavel”, com a escolha recaindo sobre o Centauro II , ao invés de se optar por uma variante do “Guarani”.

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Bem, já faz algum tempo que esta pauta esta sobre a mesa, e após algumas semanas, finalmente estamos publicando este artigo que visa lançar luz sobre a questão, proporcionando aos nossos leitores maior entendimento sobre essa definição do Exército Brasileiro, que em breve estará incorporando uma das mais modernas e capazes viaturas deste nicho, com o Centauro II representando um importante salto tecnológico e operativo á força terrestre brasileira.

Primeiro ponto, é preciso compreender que ao compararmos o Guarani ao Centauro II, é algo que não podemos deixar de ressaltar que se tratam de viaturas de concepções completamente diferentes, pois o Guarani é uma Viatura Blindada de Transporte de Pessoal, enquanto o Centauro II é Viatura Blindada de Combate de Cavalaria, o que simplificando, seria o mesmo que comparar os veteranos “Urutu” (VBTP), com o “Cascavel” (Viatura Blindada de Reconhecimento – VBR), o conceito de VBR esta sendo substituído pelo VBC Cav.

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Seguindo uma analogia entre as gerações anterior de VBTP e VBR, elencamos as principais diferenças entre as duas categorias:

VBTP – É uma viatura blindada voltada ao transporte de pessoal, onde é capaz de transportar um Grupo de Combate (GC), composto por 9 militares equipados e prontos para combate, oferecendo espaço interno para acomodação deste GC e possibilitando o rápido desembarque da tropa. Geralmente este tipo de viatura possui como armamento uma torre equipada com metralhadora, podendo adotar no caso do Guarani, uma maior variedade de torres, dentre elas a SARC – Remax ou UT-30BR.

VBR ou VBC Cav – É uma viatura blindada destinada a realizar missões de reconhecimento e atuar como “caça tanques”, possui uma tripulação composta por três militares (Chefe do Carro, Motorista e atirador), no caso do Centauro II, armado com uma torre de 120mm, um VBR ou VBC Cav, necessita de espaço interno para acomodar a sua torre e munição para a mesma, o que significa menos espaço que o necessário para um VBTP, porém, possui um peso bem maior.

Como demonstrado acima, o VBC Cav, contando com uma torre de 120mm e sua munição, apresenta uma pressão sobre o solo bem maior que uma VBTP, assim, uma plataforma 8×8 é muito mais adequada na concepção de uma VBC Cav, o que representa uma melhor distribuição da pressão sobre o terreno, evitando que a viatura atole com facilidade, diferente do que ocorreria com uma plataforma 6×6.

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Já antecipando o argumento de que o “Cascavel” possui uma plataforma 6×6, temos que ter em mente a diferença deste projeto, que utilizava uma torre com canhão de 90mm, muito mais leve que a 120mm do Centauro II, e o mesmo se dá em relação a munição de ambos. Assim, o “Cascavel” com chassi 6×6 não atola, mas se formos conceber uma viatura com as características do Centauro II em plataforma 6×6 do Guarani, teremos diversas limitações.

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Uma viatura com as características do Centauro II, exige um chassis 8×8 para melhor distribuir a pressão sobre o solo, um trem de força potente para tracionar a viatura conferindo agilidade a mesma, pois diferente de um VBTP, a ordem de peso é muito maior e concentrado, o que exige um chassi mais forte e resistente.

Porque não desenvolver uma plataforma Nacional?

Outro questionamento que muitos fazem, trata-se do cancelamento da variante 8×8 do Guarani, o que foi uma decisão em minha análise, muito acertada por parte do Exército Brasileiro.

Pois existe um ponto chave em todo programa militar, que constantemente é ignorado por entusiastas e alguns interessados na área de defesa, trata-se da ordem de Demanda, e devido a limitada demanda por esse tipo de viatura, torna inviável o investimento na concepção do projeto e a abertura de uma linha de montagem para esta viatura. Tornando economicamente inviável o programa.

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Diferente da plataforma 6×6 do VBTP “Guarani”, que possui uma escala de produção que se pretende produzir mais de 2 mil viaturas, além das encomendas externas, o que justifica o investimento na sua concepção e produção no Brasil. Uma viatura “Caça-tanques”, como o Centauro II, apresenta uma demanda muito menor, não só no Exército Brasileiro, como em outros países que operam este tipo de viatura. Logo, essa baixa demanda tanto interna, como para potenciais clientes de exportação, eleva vertiginosamente os custos de concepção e produção.

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Uma viatura no conceito VBC Cav, apresenta um nível elevado de complexidade, muito maior que o apresentado pelas VBTP Guarani, o que significa maior tempo necessário para a concepção e desenvolvimento do projeto, somado a isso, um grande investimento, que resulta em pelo menos 20 anos entre o início do desenvolvimento e a primeira entrega ao setor operativo. O que no caso brasileiro significaria uma lacuna grave no poder combativo da força terrestre, tendo em vista que a frota de EE-9 “Cascavel” já se encontra em avançado estágio de obsolescência, se comparado aos meios hoje em operação no mundo, e mesmo com mais uma atualização e modernização das viaturas remanescentes, trata-se de um projeto dos anos 70, que mesmo com toda sua história e significado para indústria nacional de defesa, esta chegando ao final de sua vida operacional.

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Em resumo, a aquisição do Centauro II pelo Exército Brasileiro foi uma decisão acertada, tanto do ponto de vista econômico, como técnico e principalmente estratégico, e espero que este artigo sirva como ponto para esclarecimento aos questionamentos sobre o cancelamento de uma versão 8×8 do Guarani, ou a concepção de uma versão “caça-tanques” 6×6 do Guarani em detrimento da aquisição do VBC Cav 8×8 Centauro II, que ao meu ver foi um excelente negócio, e que trará para o Brasil conhecimento técnico e o estabelecimento de uma logística local de componentes e suprimentos para nossa frota de Centauro II.

Por Angelo Nicolaci

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