
Como apontamos neste artigo, diversos países vêm trabalhando no desenvolvimento de SPH (obuseiros autopropulsados), especialmente sobre rodas, com o objetivo de contar com uma artilharia altamente móvel em estradas.
Um dos finalistas do Pjt VBC OAP 155 mm SR (Projeto Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado 155 mm Sobre Rodas) do EB (Exército Brasileiro) também foi um dos primeiros SPH sobre rodas modernos a entrar em serviço, o KNDS (ex GIAT, ex Nexter) CAESAR. A França desenvolveu o sistema nos anos 1990, e ele entrou em serviço em 2008.

O CAESAR (Caminhão Equipado com Sistema de Artilharia, em francês) foi pensado, como o nome indica, para obter um SPH montado sobre um caminhão. Originalmente, o CAESAR foi pensado para uso em caminhões 6×6, cujas dimensões e pesos o tornam compatível com transporte aéreo, tanto no vetusto C-130 Hércules como no KC-390.

Para maior mobilidade em rodovias, a KNDS lançou recentemente uma versão 8×8, que perde tal compatibilidade, mas apresenta melhor mobilidade no terreno e leva mais munições.
CARACTERÍSTICAS DO CAESAR
O CAESAR usa um obuseiro de calibre 155 mm padrão OTAN, com 52 calibres de comprimento de cano. Pode manter uma cadência de disparo de seis a oito tiros por minuto em fogo contínuo, ou três tiros em 15 segundos em fogo rápido.

Falando em fogo rápido, e conforme destacamos no artigo anterior, é fundamental fazer o “shoot and scoot”, ou seja, “atirar e fugir”. O CAESAR tem excelentes capacidades neste sentido, sendo capaz de fazer o ciclo de tiro (em marcha – parar – preparar – efetuar 6 disparos – desengajar – em marcha) em menos de 3 minutos.
Há algumas versões do CAESAR. A versão original, Mark 1, tração 6×6, será substituída pela versão NG (nova geração) Mark 2, também 6×6. A versão Mark 2 traz várias modificações, como uma blindagem mais resistente e motor mais potente, que elevam o peso do veículo, de 18 para 25 toneladas. Tal peso, embora elimine a compatibilidade com o C-130, ainda é compatível com o KC-390, mas seria necessário conduzir os testes, especialmente o “fit test”, ou seja, o teste de compatibilidade de dimensões, para certificar a possibilidade de transporte pelo novo cargueiro tático brasileiro.

O CAESAR é um sistema que conta com uma tripulação de 5 a 6 homens, que carregam manualmente os obuses e as cargas propelentes. Na versão 6×6, tanto os obuses como as cargas de propelente devem ser inseridas manualmente, mas há um sistema que automatiza o “ramming” (empurrar cano adentro) tanto dos obuses quanto das cargas propelentes, o que diminui a fadiga dos tripulantes e aumenta a cadência de fogo do sistema.

O CAESAR 6×6 pode levar 18 munições, enquanto o 8×8 pode levar 30. Ele é compatível com todas as munições padrão OTAN, com alcance até 50 km, com munições de maior alcance ainda em desenvolvimento. Além da maior capacidade de munições, o CAESAR 8×8 também é mais automatizado (os obuses e as cargas de propelente são carregadas automaticamente ao invés de manualmente) e mais blindado, aumentando seu peso para mais de 30 ton.
Em relação ao caminhão base, o EB não precisa se preocupar, já que o CAESAR já se mostrou bastante flexível. As unidades fabricadas para o Exército Francês usam um chassi 6×6 Renault Sherpa 5, enquanto as versões exportadas usam o chassi 6×6 Unimog U2450L ou o chassi 8×8 Tatra 817. Ainda não está claro qual será a plataforma base do CAESAR NG.

O ideal, não só para o Brasil mas para qualquer país, é buscar uma plataforma base para diversos sistemas de armas. As plataformas Tatra e Unimog são bastante comuns, e deveriam ser consideradas seriamente não só para o vencedor do Pjt VBC OAP 155 mm SR, mas também para futuros upgrades de plataformas como o Astros, os futuros sistemas de defesa antiaérea, e tantos outros que um Exército moderno usa.

O valoroso CFN (Corpo de Fuzileiros Navais) também pode se beneficiar de tal padronização, e certamente o CAESAR seria uma opção interessante para nossos guerreiros anfíbios. Neste caso, seria também necessário fazer fit tests para certificar a viabilidade do seu uso nos transportes e sistemas de desembarquedos Fuzileiros.
EM COMBATE
O CAESAR teve seu batismo de fogo em 2009, no Afeganistão. Desde então, ele foi usado pela França também no Iraque e na África, com resultados bastante positivos. Outros usuários, como Tailândia e Arábia Saudita, também elogiaram o CAESAR em operações contra seus vizinhos.
A Dinamarca enviou todos os seus 19 CAESAR 8×8 para a Ucrânia, e a França enviou outros 12, com outras unidades podendo ser enviadas em breve. Assim como em outros teatros de operação, o CAESAR apresentou bons resultados com os ucranianos, com elevadas taxas de sobrevivência.
CONCLUSÃO
O CAESAR apresenta ótimas capacidades de “shoot and scoot”, simplicidade de operação e robustez. Sua mobilidade, mesmo em condições extremamente adversas em vários lugares do mundo, se mostrou bastante apropriada.
Dado o seu excelente histórico em combate, não há dúvidas de que o CAESAR seria uma excelente aquisição não só para o EB, mas também para o CFN.
Por Renato Marçal