
Com a IOC (condição operacional inicial) do Gripen anunciada no último dia 19 de dezembro de 2022, uma pergunta começou a ser feita por várias pessoas – o que será dos F-5 e A-1?
Neste artigo, vamos falar sobre uma ideia que pode garantir que os vetustos “Bicudos” e “Centauros” ainda sejam úteis para nossa FAB (Força Aérea Brasileira) por muitos anos.
CONVERSÃO
Na Guerra de Nagorno-Karabakh em 2020, o Azerbaijão fez grande uso de uma arma inusitada, mas que se mostrou bastante eficiente.
Como foi parte da União Soviética, e apesar de não ter uma Força Aérea considerável, o Azerbaijão tinha um bom número de aeronaves Antonov An-2 “Colt” em estoque.
O An-2 é uma aeronave de transporte biplano, lenta e desarmada, que evidentemente é extremamente vulnerável no campo de batalha moderno.
Entretanto, o Azerbaijão foi muito criativo para extrair o máximo dos An-2, e os transformou em loitering munitions (“drones kamikaze”), ou seja, aeronaves remotamente pilotadas, descartáveis, carregadas com explosivos, cuja missão é atacar posições inimigas.
Para aumentar ainda mais a eficiência, os An-2 levavam detectores de radar e equipamentos de transmissão de dados, de tal forma que, se as defesas armênias tentassem abatê-los, acabariam por revelar sua posição, e o Azerbaijão os atacaria em seguida com outras armas.
Ou seja, os An-2 funcionaram como versões maiores de drones kamikaze como os Harop israelenses, que se mostraram altamente eficientes em combate, inclusive pelo próprio Azerbaijão.
O uso dos An-2 “kamikaze” permitiu que o Azerbaijão preservasse tanto suas poucas aeronaves de combate como seus pilotos, ao mesmo tempo em que dificultou muito a vida das defesas da Armênia.
QF-5 E QA-1
Na nomenclatura americana, os “drones” (ARP, aeronaves remotamente pilotadas) recebem o prefixo Q, portanto os F-5 convertidos em drones seriam os QF-5, e os A-1 seriam QA-1. Esta não é, na verdade, uma ideia inédita – o Vietnã considera converter alguns dos seus MiG-21 em drones.
Em relação ao An-2, o F-5 e o A-1 apresentam uma série de vantagens que o fariam muito úteis.
A retirada de sistemas de apoio ao piloto permitiria uma redução do peso e/ou um aumento da carga de combustível, o que aumenta o alcance. Caso seja usado em missões “kamikaze”, o alcance aumenta ainda mais, já que não é necessário considerar a viagem de volta.
O F-5 é tão veloz quanto o F-39E Gripen, e o A-1 também é muito veloz a baixas altitudes. Ambos podem ser equipados com o data link (sistema de enlace de dados, ou comunicações criptografadas) BR2, uma das possibilidades é lançar os QF-5 e QA-1 à frente de uma vaga de ataque.
Eles iriam adiante fazendo uma varredura com seus sensores mais antigos, como radares e versões mais antigas dos pods Litening, localizando alvos para os Gripen, ao mesmo tempo em que se expõem para as defesas inimigas, revelando suas posições para os F-39, que poderiam tanto atacá-las quanto se desviar delas, ocultando seu verdadeiro alvo.
O inverso também é possível – o F-39 Gripen pode usar seus sensores mais avançados e de maior alcance para localizar alvos, transmitindo os dados para os QF-5 e QA-1. Caso os QF-5 e QA-1 levem bombas do estilo das JDAM, poderiam atacar até mesmo alvos muito perigosos aos pilotos, como mísseis antiaéreos de longo alcance.
Eles também podem ser utilizados para reconhecimento, tanto com pods RecceLite quanto com sistemas de ELINT (Inteligência Eletrônica), localizando alvos para definir rotas seguras de ataque. Neste caso, o objetivo não seria propriamente atacar as defesas, mas ainda assim é possível programar o drone para se lançar sobre alvos de oportunidade. Os QF-5 e QA-1, neste sentido, seriam versões gigantes dos Harop, e ainda por cima com a velocidade de um jato!
Outra possibilidade é usá-los como verdadeiros mísseis de cruzeiro, atacando alvos grandes que de outra forma seriam difíceis ou impossíveis de destruir com as armas do F-39 Gripen. Um QF-5 ou QA-1 de 8 toneladas, equipado com uma bomba BAFG-920 de mais de 900 kg, teria uma capacidade destrutiva gigantesca, e mesmo navios de grandes dimensões podem ser afundados por um impacto destes.
Os QF-5 também podem ser usados como alas, ao estilo do programa Loyal Wingman. Desta forma, eles podem proteger os F-39 Gripen, e até mesmo atacar outras aeronaves. O uso de mísseis de longo alcance como o Derby permitiria atacar alvos a grandes distâncias, quebrando a consciência situacional dos pilotos inimigos, tornando-as mais vulneráveis aos Gripen.
CONCLUSÃO
O “Bicudo” já serve à FAB, com distinção, há 5 décadas, e finalmente chegou a hora de ser substituído. O mesmo se aplica ao Centauro e suas mais de 3 décadas de bons serviços.
Isso não impede que eles continuem a cumprir bons serviços à FAB; se utilizados como QF-5 e QA-1 em missões “kamikaze”, de reconhecimento, ou como mísseis de cruzeiro, poderiam ser bastante úteis no campo de batalha, com o benefício adicional de preservar a segurança dos valorosos pilotos.
Muito interessante a ideia.
Obrigado pelo comentário, Mestre!